"Trabalhemos ao menos, nós os novos, por perturbar as almas, por desorientar os espíritos. Cultivemos em nós próprios a desintegração mental como uma flor de preço. Construamos uma anarquia. Escrupulizemos no doentio e no dissolvente. E a nossa missão, a par de ser a mais civilizada e a mais moderna, será também a mais moral e a mais patriótica." Fernando Pessoa
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
Nuvens (I)
Não haverá uma só coisa que não seja
uma nuvem. São nuvens as catedrais
de vasta pedra e bíblicos cristais
que o tempo aplanará. São nuvens a Odisséia
que muda como o mar. Algo há distinto
cada vez que a abrimos. O reflexo
de tua cara já é outro no espelho
e o dia é um duvidoso labirinto.
Somos os que se vão. A numerosa
nuvem que se desfaz no poente
é nossa imagem. Incessantemente
a rosa se converte noutra rosa.
És nuvem, és mar, és olvido.
És também aquilo que perdeste
Jorge Luis Borges
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