domingo, 13 de maio de 2012





"Pois os pensamentos são uma coisa estranha. Muitas vezes não passam de acasos que desaparecem sem deixar rastros; os pensamentos tem épocas de viver e épocas de morrer. Pode-se ter uma idéia genial, e ainda assim, como uma flor, ela murchará lentamente entre nossas mãos. Permanece uma forma, mas faltam suas cores e seu aroma. Isso significa que, embora posteriormente nos lembremos bem dessa idéia, palavra por palavra, e o valor lógico da frase permaneça inalterado, ela apenas flutua desorientada na superfície de nosso interior, e não mais nos sentimos enriquecidos por possui-la. Até que - talvez anos depois - de súbito surge o momento em que vemos que, naquele meio-tempo, nada sabíamos sobre ela, ainda que, do ponto de vista da lógica, soubéssemos tudo."

MUSIL, Robert, 1880-1942. O Jovem Törless (Die Verwirrungen Des Zöglings Törless), Áustria, 1906.




"...Com dezoito anos, terminados meus primeiros estudos, o espírito cansado de trabalho, o coração desocupado, definhado por isso, o corpo exasperado pelos constrangimentos, parti pelas estradas, sem meta, ao sabor de minha febre erradia. Conheci tudo o que sabeis: a primavera, o odor da terra, a floração das ervas nos campos, as brumas das manhãs sobre os rios, e o vapor da tarde nos prados. Atravessei cidades, e não quis parar em nenhum lugar. Feliz, pensava, quem não se prende a nada na terra e passeia um eterno fervor através das constantes mobilidades. Odiava os lares, as famílias, todos os lugares em que o homem pensa encontrar descanso; e as afeições contínuas, e as fidelidades amorosas, e o apego às idéias - tudo o que compromete a justiça; dizia que cada novidade deve encontrar-nos sempre diponíveis."

GIDE, André, 1869-1951. Os Frutos da Terra (Les Nourritures Terrestres), França, 1897.




Bem, e se eu estiver enganado? […] Se de fato o homem, quero dizer, o gênero humano, não for canalha? Então tudo o mais não passa de preconceitos, tão somente espalhados para pôr medo.. então não há qualquer limite.. e é assim mesmo que deve ser!… . Fiodor Dostoievski, escritor russo (1821-1881).